sexta-feira, 31 de julho de 2009

Panic At The Disco

É necessário um diferencial para que uma banda consiga se destacar, entre as dezenas que surgem todos os dias, no cenário musical norte-americano. É preciso que sua singularidade seja ainda maior para que ela consiga ultrapassar as barreiras nacionais e atinja outros continentes com suas músicas. Pois o Panic foi dotado, além de um som único e original, de tanta sorte que faria inveja ao maior dos trevos.

Quando os jovens Ryan Ross e Spencer Smith pediram guitarra e bateria, respectivamente, como presentes de natal, eles nunca iriam imaginar que seu interesse por música poderia levá-los tão longe. Os dois, assim como Brendon Urie e Brent Wilson - os quais, mais tarde, viriam a integrar o grupo – nasceram em Las Vegas, e moravam numa comunidade nos subúrbios, chamada Summerlin. Ryan e Spencer se conheceram ainda muito jovens, com 6 e 5 anos, e além da amizade local, freqüentaram a mesma escola católica durante o ensino médio; em torno dos 12 anos, os dois decidiram pedir aos pais instrumentos musicais, inspirados pelas grandes bandas das quais eram fãs na época. “Na verdade, naqueles primeiro anos, tudo o que fizemos, foram covers do Blink 182”, lembra Spencer, rindo - ainda que a dupla nunca tenha escondido dos fãs a admiração pelo grupo.

A aproximação com Brent Wilson, no baixo, realizou-se cedo, com 14 anos, e junto com um outro colega chamado Trevor, na guitarra – Ross era o vocalista -, fundaram a “Pet Salamander”, a primeira experiência musical do grupo. O amadurecimento foi gradativo, e após alguns anos, Ryan, Spencer e Brent criaram a “Summer League”, banda na qual Ryan fazia tanto a guitarra quanto os vocais; o som, no entanto, ainda era muito diferente do que viria a ser com o surgimento do Panic, e soava mais como as dezenas de bandas pop-punk que pipocavam naquele período.

Foi quando Brent foi transferido para a Palo Verde High School e conheceu Brendon Urie, durante as aulas de guitarra, que a figura do Panic começou a se esboçar. O baixista convidou o outro para tentar uma vaga como guitarrista na banda - já que Trevor, por alguma razão, deixara o grupo -, e após um teste, o rapaz foi admitido no grupo - a principio, na guitarra. “Isso foi por um mês ou dois, e então um dia Ryan me perguntou se eu queria cantar, e eu falei ‘ah, claro, vou tentar’” – contou Brendon, posteriormente. Quanto ao nome da banda? “Dois meses depois de eu me tornar o novo vocalista, nós estávamos em dúvida entre ‘Burn Down The Disco’ e ‘Panic At the Disco’. ‘Burn Down The Disco’ é da música ‘Panic’, do The Smiths, e o outro é de uma música do Name Taken, também chamada ‘Panic’. Por alguma razão, que nós não sabemos, acabamos nos decidindo por ‘Panic! At The Disco’.”

Os quatro gravaram duas músicas demo no laptop de Ryan, e após hospedá-las no PureVolume (site de música norte-americano), decidiram tentar a sorte, enviando os links para Pete Wentz, do Fall Out Boy, já que sabiam que ele havia recentemente fundado um selo e estava a procura de bandas. Eles próprios admitem que não tinham grandes esperanças além de um comentário de motivação, e qual não foi sua surpresa quando o baixista fez contato, marcando uma audição para ouvi-los ao vivo! Ryan e Brendon apresentaram versões acústicas das poucas músicas quem haviam escrito – apenas três -, no local de ensaio da banda, em Las Vegas, e identificando neles algo de diferente, Pete decidiu contratá-los pelo seu selo independente, a Decaydance, em união com a gravadora indie Fueled By Ramen - fato que ocorreu em torno de Dezembro de 2005.

O primeiro CD, “A Fever You Can’t Sweat Out”, foi lançado em 27 de Setembro de 2005, e apresentava uma estruturação distinta da maioria dos álbuns: começando com uma faixa introdutória, a primeira metade do disco apresentava músicas mais eletrônicas, com sintetizadores e batidas computadorizadas, e após uma faixa de separação, a segunda se baseava em instrumentos mais tradicionais e antigos, como o piano, o violoncelo e o bandolim. “Na primeira metade do CD nós estávamos um pouco menos focados em bandas e mais na idéia de escrever músicas as quais as pessoas pudessem dançar. […] A segunda metade surgiu, em parte, porque nós estávamos cansando de escrever músicas só com teclados, guitarras e batidas,” explicou Ryan. Além das melodias marcantes, o álbum também se diferenciou pelas letras provocantes, que tratavam de assunto como o alcoolismo, a prostituição, o adultério e a religião. O álbum fez tanto sucesso que a banda se transformou, de arriscada aposta, para um dos títulos principais da Decaydance, e não demorou a que o disco ganhasse platina; atualmente, as vendas já ultrapassaram 1,6 milhão de cópias em todo o mundo. O vídeo para “I Write Sins Not Tragedies”, também, ganhou o prêmio de Melhor Vídeo do Ano no VMA de 2006, elevando ainda mais a imagem do grupo.

Os primeiros shows foram particularmente difíceis para os quatro, que tinham quase nenhuma experiência, tanto em shows quanto em apresentações de longa duração; passado o choque, porém, a banda começou a realmente investir em seus shows ao vivo, que ficaram conhecidos pelo forte apelo visual que exerciam, com figurinos e cenários trabalhados, maquiagens complexas, dançarinas e contorcionistas, detalhes que deram a eles a fama de banda teatral de cabaré. Em julho de 2006, o baixista Brent Wilson deixou a banda sem maiores explicações; os outros justificaram a saída, depois, dizendo que ele não se dedicava o suficiente e que, na realidade, mal chegara a participar das gravações de “A Fever” – ainda que seu nome tenha aparecido nos créditos autorais e nos agradecimentos. A substituição encontrada veio da própria Fueled By Ramen: Jon Walker, funcionário da FBR, que trabalhara com o The Academy Is… e com o Panic! durante a turnê “Truck Stops and Statelines”, no começo do mesmo ano. Após uma audição, foi aceito de bom grado, uma vez que já havia certa amizade entre ele e os membros da banda.

Em 2007, o Panic começou a empregar esforços em um segundo álbum; muito mais maduros e experientes que na primeira vez, o grupo se retirou da rotina de shows para uma cabana nas montanhas de Nevada, e lá ficaram por quase todo o primeiro semestre. No Summerfest, em julho, eles apresentaram uma música nova, “True Love”, que evidenciava o quanto à banda mudara em termos musicais; após o festival, entretanto, a banda anunciou que havia descartado todo o material feito até então para se direcionar por um outro caminho. “Nós passamos por uma fase de escrever que só ocorreu porque ficamos em turnês por muito tempo, e nós estávamos tão enjoados dessas músicas antigas que decidimos escrever músicas que eram realmente complicadas e desafiadores para nós,” explicou Ryan. “Então nós percebemos que também não teríamos nenhum prazer em tocar essas [músicas], e por isso decidimos rejeitar todo o projeto. Havia uma estória atrás de todo o álbum, uma estória curta, e nós decidimos deixá-la de lado e apenas começar a tocar como uma banda, e tem sido muito melhor.”

Entre aplausos e reclamações, o Panic apresentou alguns frutos desse trabalho um tempo depois, no Carling: Reading and Leeds Festival, com músicas como “Nine in the Afternoon” e “When the Day Met the Night”, ainda em versões demo. Se “True Love” já mostrara um estilo musical diferente, este se concretizou com as novas canções, que abandonavam os temas polêmicos para outros mais felizes e suaves, reflexo da mudança de vida dos próprios membros, principalmente Ryan. “Nós temos umas seis ou sete músicas que são bem mais completas… e [elas são] muito mais ‘elevadas’. Elas têm um ar mais positivo. É meio difícil escrever um bando de músicas tristes se você não está mais triste,” contou Ross a MTV, em Setembro de 2007.

Em Janeiro de 2008, após uma série de enigmas em seu site, o Panic divulgou o título do segundo CD, “Pretty.Odd.”, além do nome de todas as músicas que fariam parte dele. As já conhecidas “When the Day Met the Night” e “Nine In the Afternoon” juntaram-se a muitas outras faixas, numa compilação total de 15 músicas. “Nine” foi escolhida como primeiro single, e sua versão final foi liberada em 29 de Janeiro, por meio do MySpace da banda, revelando uma mixagem totalmente diferente de “A Fever”, na qual os sintetizadores e teclados trabalhados foram substituídos por cornetas e gaitas, aliados a uma naturalidade completamente diferente da perfeição computadorizada do primeiro álbum. “Nós não estamos usando sintetizadores nesse álbum, e a coisa mais legal e surpreendente para mim é que a maneira como gravamos esse disco é totalmente diferente do primeiro CD. Dessa vez, na verdade, nós tocamos juntos ao vivo no estúdio. Nós fazíamos quatro tomadas, talvez, e escolhíamos a melhor delas. Nós estamos tentando fazer o álbum soar tão natural quanto possível,” disse Brendon, no começo do ano, a Kerrang!.

No mesmo mês, o grupo também anunciou que o “!”, de Panic! At The Disco, fora retirado do nome, por motivos práticos; apesar da medida parecer ter desagradado à maioria dos fãs, o nome foi oficialmente alterado para Panic At The Disco em todos os sites oficiais ligados ao grupo. Outra mudança foi o abandono do estilo circense, fato que foi noticiado pelos próprios membros; Ryan, porém, afirmou que os shows do Panic continuarão a ter um forte apelo visual.

Ainda em janeiro, o Panic foi anunciado como artista principal da Honda Civic Tour, em sucessão ao Fall Out Boy, que fora o headliner na edição de 2007; a turnê, que começa em abril, irá dar suporte ao lançamento do segundo CD e indica, sem sombra de dúvida, o porte descomunal que a banda atingiu após esses três anos de existência, a exemplo dos líderes de edições anteriores, como Black Eyed Peas, Good Charlotte, New Found Flory, Blink-182 e o próprio Fall Out Boy. Segundo Brendon: “Esses caras deixaram o evento num nível bem alto, mas nós estamos nos preparando para voltar à estrada novamente e estamos definitivamente prontos para o desafio.”

Em março de 2008, Pretty.Odd. chegou às lojas, acompanhado de extensa turnê divulgação, e alguns meses depois viria a atingir a marca de mais de 600 mil cópias vendidas, marca ligeiramente inferior a de seu sucessor, mas razoável para o estado de declínio que sofre o mercado fonográfico atual. Em meados do mesmo ano, o grupo anuncia que já estava trabalhando em músicas para um novo álbum durante turnês e que este deveria sair até o fim de 2009. “That Green Gentleman” e “Northern Downpour”, ainda em 2008, também ganham videoclipes. No fim do do mesmo ano, a banda lança um disco ao vivo, compilando canções de ambos os álbuns.

O ano seguinte começa calmo, mas cheio de expectativas. Brendon participa de “Open Happiness”, música tema da nova campanha da Coca-Cola produzida por Butch Walker e recheada de participações especiais. Uma possível parceria com o Blink 182, anunciada via Twitter por Mark Hoppus aumentam as expectativas para um novo álbum de ambos os grupos.

E a história continua, porém agora sem o guitarrista Ryan Ross e o baixista Jon Walker. Os dois integrantes anunciaram a saída do grupo, com o objetivo de “embarcar em uma excursão musical própria”, como disseram em seu site oficial. Brendon e Spencer continuarão com a banda, porém ainda estão à procura de substitutos para tocar nas próximos turnês, e com uma novidade: A volta da “!”.

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